Há 78 anos, na região dos Apeninos, na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial, a 1ª Divisão de Infantaria (1ªDIE) da Força Expedicionária Brasileira (FEB) conquistava a mais importante posição defensiva alemã no seu setor, alcançando um feito de armas que entrou para a História Militar do Brasil.
Monte Castelo
A elevação denominada Monte Castelo abrigava uma posição fortificada alemã, que compunha uma linha defensiva que barrava o avanço das tropas do XV Grupo de Exércitos aliado em direção ao norte da península Itálica.
Ao conjunto linear dessas defesas deu-se o nome de “Linha Gótica”, que se estendia do Mar da Ligúria, a oeste, imediatamente ao sul da cidade portuária de La Spezia, ao Mar Adriático, a leste, na altura de Pesaro.
A 1ªDIE, integrada ao IV Corpo de Exército norte-americano, recebera a missão de romper as defesas alemãs na sua frente, em novembro de 1944, para liberar a Rota 64, que demandava a Bolonha e, assim, cooperar com o avanço aliado para o norte.
Após três tentativas frustradas de capturar o objetivo, em 24 e 29 de novembro e em 12 de dezembro, o rigoroso inverno impôs uma paralisação das operações ofensivas, período em que as forças brasileiras se empenharam na manutenção de suas posições e em patrulhas para reconhecimento do terreno e captura de prisioneiros.
Em fevereiro de 1945, com o lançamento da Operação Encore, a ofensiva foi retomada, com os brasileiros recebendo a incumbência de conquistar e manter as alturas entre o Monte Della Toraccia-Monte Belvedere, cujo baluarte era o famigerado Monte Castelo. Dessa feita, a proteção do flanco esquerdo do ataque brasileiro seria realizado pela 10ª Divisão de Montanha (EUA), que ficaria responsável pela tomada e manutenção do Monte Belvedere, cuja posse em mãos alemãs inviabilizara as tentativas anteriores de manutenção da conquista das elevações, pela 1ªDIE.
Ataque e vitória
Tendo aprendido as lições advindas das tentativas frustradas de conquistar o objetivo, o comando brasileiro ajustou a manobra, coordenou os fogos de artilharia e de apoio aéreo aproximado e as ligações com as demais unidades do IV Corpo empenhadas no ataque, em particular com a 10ª Divisão de Montanha.
No dia 21, às 05h30min, os três batalhões do 1° Regimento de Infantaria (Regimento Sampaio) partiram de suas bases e iniciaram o ataque, sob a proteção dos fogos dos obuseiros da Artilharia Divisionária e das armas de apoio da própria infantaria.
Durante 12 horas, os brasileiros obstinaram-se na conquista do objetivo, combatendo morro acima, enfrentando um terreno escarpado, as baixíssimas temperaturas do inverno italiano e, principalmente, um inimigo adestrado e extremamente eficiente na arte do combate defensivo, que vinha se aproveitando do terreno, propício à defesa, desde os ferozes combates por Monte Cassino, na primavera de 1944.
Às 17h30min, antes, portanto, do prazo estabelecido para a tomada do objetivo, fixado pelo 5°Exército, a voz do Tenente-Coronel Franklin, Comandante do III Batalhão do Regimento Sampaio, ressoa pelos alto-falantes do Posto de Comando brasileiro: “- Estou no cume do Castelo!”.
Registros apontam que elementos do I Batalhão do Regimento, comandado pelo Major Uzeda, também atingiram as alturas de Castelo, simultaneamente a elementos do III Batalhão.
Fato é que os brasileiros conquistaram a elevação antes mesmo de a 10ª Divisão de Montanha tomar Belvedere e garantir o flanco exposto da FEB, o que se concretizaria algumas horas depois, na madrugada de 22.
Na ação, as forças brasileiras sofreram um total e 103 baixas, entre mortos, feridos e desaparecidos.
Simbolismo da vitória em Castelo
A vitória em Monte Castelo foi além da conquista de um objetivo tático com efeitos estratégicos para a causa aliada, no fronte italiano. Foi uma afirmação do valor em combate do soldado brasileiro, uma prova do seu poder de superação face às adversidades do clima, do terreno, do inimigo e da própria guerra, haja vista a tropa brasileira ser a mais inexperiente das que combatiam no Teatro de Operações da Itália.
Nas palavras de Manoel Thomaz Castello Branco, in “O Brasil na Segunda Grande Guerra”, “…com esse sedento feito, a FEB saldou um dos seus mais sérios compromissos na Itália, pelos aspectos morais que encerrava. O Monte Castelo já não era mais um simples objetivo a ser conquistado, mas um desafio a enfrentar e uma vingança a executar, cujo desfecho seria a consagração apoteótica ou a ruína acabrunhadora”.
Graças ao denodo, ao desassombro, ao heroísmo, à capacidade de adaptação e, principalmente, às vidas e ao sangue dos soldados brasileiros, de todas as armas e serviços, a vitória nos sorriu naquele 21 de fevereiro de 1945, nas alturas de Monte Castelo.
Tal feito de armas nos garantiria o respeito próprio, de nossos superiores e adversários, e a confiança necessária para prosseguir lutando até a vitória final, em maio de 1945, após um rastro de páginas gloriosas, escritas pelos nossos “pracinhas”, na Itália.
Honra e glória aos bravos combatentes da Força Expedicionária Brasileira!
Seu sacrifício jamais será esquecido!
Viva a FEB!
Viva o Brasil!