Go for Broke

      O traiçoeiro ataque a Pearl Harbor, no Havaí, perpetrado pelo Império do Japão, em 7 de dezembro de 1941, foi o fato decisivo que determinou a entrada dos Estados Unidos na 2ª Guerra Mundial.

Os campos de realocação

      A seguir ao ataque, o governo norte-americano adotou uma série de medidas para controlar a população de origem japonesa que habitava o território do Havaí e os estados da costa oeste do país, a fim de evitar ações de espionagem e de sabotagem ao esforço de guerra que seria empreendido a partir de então.

Para efetivar o controle desejado sobre essa população, o Presidente Franklin Delano Roosevelt emitiu, em 19 de fevereiro de 1942, a Ordem Executiva n° 9066, que estabelecia que os estados da Califórnia, Arizona, Oregon e Washington fossem considerados Zonas Militares, e que determinava, ainda, a realocação dos japoneses-americanos em campos de internação, compulsoriamente.

Campo de realocação de Manzanar, Califórnia

Inicialmente, os japoneses-americanos retirados de suas comunidades foram alocados em campos temporários, localizados nesses estados da costa oeste que foram declarados como Zonas Militares.

A seguir, a maioria foi enviada para os campos de internação, espalhados pelos estados da Califórnia, Arizona, Colorado, Wyoming, Idaho, Utah e Arkansas. Havia, também, oito campos sob a administração do Departamento de Justiça, que também abrigavam americanos de origem japonesa, nos estados do Texas, Idaho, Novo México, Dakota do Norte e Montana. Indivíduos considerados problemáticos foram destinados a campos em Utah, Arizona e Novo México, enquanto internados condenados por crimes foram alocados em campos nos estados de Washington, Arizona e Kansas.

No total, mais de 110.000 americanos de ascendência japonesa foram internados em campos espalhados pelos Estados Unidos.

      No arquipélago havaiano, o governador militar do território declarou Lei Marcial, com toque de recolher à noite e outras medidas de restrição de circulação e de liberdades individuais. Com uma população de 150.000 japoneses ou descendentes no território, em um total de 400.000 pessoas, não foi adotada a política de internação em campos, para não causar impacto negativo na economia local, pois cerca de 50% da força de trabalho era formada por nisseis[1].

Nisseis no US Army

      Quanto aos nisseis que integravam a Guarda Territorial do Havaí, foram dispensados os oriundos do ROTC[2] e permitida a permanência de 1.300 homens, das fileiras dos 298° e 299° Regimentos de Infantaria daquela Guarda.

      Os nisseis dispensados, dispostos a mostrar sua lealdade aos EUA, mediante solicitação ao governador do Havaí, fundaram o Varsity Victory Volunteers[3], grupo que passou a colaborar para o esforço de guerra, como mão-de-obra para construções de finalidade militar.

      Preocupado com a possível invasão das ilhas havaianas por forças militares do Japão e com a lealdade dos soldados nissei em caso de sua ocorrência, o Departamento de Guerra autorizou sua transferência para o continente, como embrião de um futuro Batalhão de Infantaria. O Batalhão Provisório Havaiano foi, então, enviado para Camp McCoy, no Estado de Wisconsin, em junho de 1942, para receber treinamento. Em 15 de junho, receberia a designação de 100° Batalhão de Infantaria. Em janeiro de 1943, o batalhão foi movido para o Camp Shelby, no Estado do Mississipi, onde recebeu treinamento avançado e, a seguir, para Camp Clairborne, na Louisiana, onde participou de manobras e jogos de guerra.

Homens do 100° Batalhão recebem treinamento – 1° de janeiro de 1943

      Ao retornar para o Mississipi, em 16 de julho de 1943, reuniu-se ao recém-formado 442nd Regimental Combat Team (442 RCT)[4], unidade também formada majoritariamente por japoneses-americanos.

     Em 20 de julho de1943, a pedido de seus integrantes, o 100° Batalhão de Infantaria recebeu como lema oficial a legenda “Remember Pearl Harbor[5].

Partida para a guerra

      No dia 21 de agosto, partiu de Nova Jersey para o Norte da África.

      Por decisão das autoridades, foi estabelecido que os combatentes de origem nipônica não poderiam ser empregados no Teatro de Operações do Pacífico, na luta contra o Império do Japão. Somente foram aproveitados nesse fronte nisseis que dominavam o idioma japonês, para atuarem como tradutores e intérpretes e como agentes de Inteligência Militar.

      Ao chegar a Oran, na Argélia, porém, o General Eisenhower não demonstrou interesse em aproveitar aquela tropa, que carregava a desconfiança – e o preconceito – de muitas autoridades governamentais e militares dos EUA e dos Aliados.

      No entanto, o Tenente-General Mark Clark acolheu o novato batalhão nissei em seu 5° Exército, incorporando-o ao 133° Regimento de Infantaria, da 34ª Divisão, veterana da Campanha do Norte da África. Em 19 de setembro, o 100° seguiu com a Divisão para a Itália.

Batismo de fogo

       O batismo de fogo do batalhão nissei ocorreu em 29 de setembro de 1943, na esteira da batalha de Salerno, quando foi empregado, com o 133° RI, para cortar a autoestrada Avelino-Benevento.

      No prosseguimento das operações, após a tomada de Nápoles, o batalhão destacou-se nas ações para romper a Linha do Volturno, curso d’água que cruzaria três vezes, durante a ferrenha luta para a conquista das alturas que dominavam sua margem oposta.

      Após superarem a Linha do Volturno, depararam-se com a Linha Gustav, ou Linha de Inverno, posição fortificada, erigida pelas Organização Todt[6], cuidadosamente planejada para deter o avanço aliado em direção a Roma.

Monte Cassino

      Nos combates para a conquista de Monte Cassino – baluarte defensivo da Linha Gustav – que tomaram lugar na História como dos mais ferozes e mortais de toda a guerra, o 100° Batalhão receberia a alcunha de “Purple Heart Battalion[7]”, devido ao excepcional número de militares feridos em ações de combate. Na primeira ação nessa batalha, a Companhia B do 100° BI terminou com apenas 14 homens, entre os 187 que a começaram. No segundo ataque a Cassino, o batalhão nissei atacou e manteve a posição duramente conquistada aos alemães por quatro dias, sob ataques de morteiros, metralhadoras e tanques, antes de recuar, por falta de proteção nos flancos, tarefa que o restante da 34ª Divisão de Infantaria não conseguiu cumprir. Um de seus pelotões terminara essa ação com a penas 5 de seus 40 integrantes. Ao fim de fevereiro de 1944, após quase seis meses em combate, o efetivo original do 100° BI, de 1.300 homens, havia sido reduzido a 521.

Anzio

       Após um breve período de descanso e reorganização, o batalhão foi empregado na cabeça-de-praia em Anzio, a partir de 26 de março. A unidade tomou a última posição fortificada alemã no caminho de Roma, em Lanuvio, Ao invés de prosseguir para a Cidade Eterna, o batalhão foi mandado estacionar a cavaleiro da estrada, a apenas 10 quilômetros de distância daquela capital, no dia 4 de junho de 1944. Foi ultrapassada por outras unidades do 5° Exército, que marcharam sobre Roma. O 100° Batalhão de Infantaria jamais pôde ao menos ver a milenar cidade, tendo sido enviados para Civitavecchia, onde, em 11 de junho, juntou-se ao 442nd RCT (442° Equipe de Combate Regimental), recém-chegado ao Teatro de Operações do Mediterrâneo.

Em consideração aos seus feitos em combate, foi permitido ao 100° BI manter sua denominação, passando a integrar o 442 como um de seus batalhões, já que o 1° Batalhão permanecera nos EUA, para treinar os recompletamentos a serem enviados para a frente.

O 442 RCT

O 442nd Regimental Combat Team havia sido formado após o 100° Batalhão. Cumpriu seu período de preparação e treinamentos, encerrado em fevereiro de 1944, e partiu do porto de Hampton Roads, na Virgínia, em 1 de maio de 1944, chegando a Anzio em 28 de maio.

O 442 em Bruyeres, França

Passou a ser formado por três batalhões de infantaria (o 100°, 2° e 3°), pelo 552nd Field Artillery Battalion[8], pela 232nd Combat Engineers Company[9], Anti-Tank Company[10], Cannon Company[11], Service Company[12] e HQ Company[13], além da Banda de Música e do Regiment Headquarters[14], em um total de 4.000 homens. Desses, 3.000 foram selecionados entre os voluntários originários do Havaí, e 800 dentre os do continente. A desproporção visível entre o número de voluntários havaianos e da costa oeste explica-se pelo ressentimento causado entre a comunidade nipo-americana do continente, que foi realocada compulsoriamente em campos de internação.

Juntando-se à 34ª Divisão de Infantaria, o 442 foi empenhado na arremetida do 5° Exército em direção ao Rio Arno, a seguir à tomada de Roma. Seu début em combate aconteceu em 26 de junho de 1944, na conquista de Suvereto, na Toscana. O 442nd RCT prosseguiu na direção norte, pressionando o inimigo e empurrando-o naquela direção. Após um dos mais duros combates vistos na Itália desde Cassino, em 1 de julho de 44, o regimento tomou Cecina, à beira do Tirreno, a apenas 31 quilômetros do principal porto da Toscana, Livorno, que jazia na foz do Arno.

Em 7 de julho, no avanço para o norte, na direção de Livorno e Pisa, mais além, o 442 enfrentaria duros combates para expulsar os alemães da Cota 140, que foi chamada de “Little Cassino[15], pela tenaz resistência oferecida. Após o emprego dos três batalhões na conquista da posição, o 100th Infantry Battalion prosseguiu para tomar a localidade de Castellina Marittima, superando feroz resistência alemã e mantendo a posição ante vários contra-ataques.

Tomada de Livorno

No dia 19 de julho, Livorno foi tomada pela 34ª Divisão de Infantaria, com expressiva participação do 442nd Regimental Combat Team. A unidade nissei continuou combatendo, vencendo a firme oposição alemã, até atingir as margens do Arno, em 25 de julho.

Nesse interregno, em 15 de julho, o 442 cedeu sua Companhia Anti-carro para a invasão do sul da França, e só tornaria a incorporá-la novamente no final de outubro, na região dos Vosges.

Depois de um merecido repouso para reorganização e recompletamento, o 442 voltou à frente do Arno, que foi cruzado pelo regimento em 31 de agosto.

Na França

Em 11 de setembro, o 442 foi retirado do 5° Exército e incorporado à 36ª Divisão de Infantaria, então em operações no nordeste da França, com o 7° Exército dos EUA. Partindo de Nápoles, a unidade chegou a Marselha, em 30 de setembro, deslocando-se para a região dos Vosges, na Lorena, próximo à fronteira com a Alemanha.

Nessa campanha pelo nordeste da França, o 442 envolveu-se em duros e encarniçados combates pela conquista da cidade de Bruyères, importante cruzamento de estradas, onde foi empregado em 15 de outubro, tendo conquistado aquela localidade após seis dias de luta.

Dois dias depois, na luta por Biffontaine, o 100° Batalhão foi isolado do RCT, já fora do alcance da sua artilharia, tendo sido salvo pelo 3° Batalhão/442, após renhidos combates casa-a-casa e resistir a vários contra-ataques alemães.

Retirado da frente para descanso e recomposição, o 442 estava apenas há pouco mais de dois dias de repouso quando, em 26 de outubro de 1944, à meia-noite, foi acionado pelo Comandante da 36ª Divisão, Major-General John Ernst Dahlquist, que havia substituído Fred Walker há cerca de um mês.

Resgate do Batalhão perdido

Dahlquist determinou que o 442 resgatasse o 1° Batalhão do 141° Regimento de Infantaria (Texas Battalion), também integrante da 36ª Divisão de Infantaria, que se encontrava isolado e cercado por forças inimigas, em uma área dos Vosges montanhosa e coberta por floresta, a cinco quilômetros a leste de Biffontaine.

Sem conhecer a exata localização das tropas alemãs que cercavam o 1°/141° RI, o 442 marchou floresta adentro, na direção leste, enfrentando noites sem luar, nevoeiros, chuva, neve, frio, lama e o cansaço acumulado, até acercar-se das posições inimigas, que lhe opôs obstinada resistência.

Em 29 de outubro, o 2° Batalhão do 442 atacou os alemães na colina 617, a apenas dois quilômetros do Texas Battalion. Aos gritos de Banzai!, em uma carga determinada, os nisseis conquistaram a elevação, às 3 horas da manhã.

Dessa posição, conseguiram apoiar a ação do 100° e 3° Batalhões que, aos gritos de “Go for Broke”, carregaram sobre as posições alemãs e, às 04:10h do dia 30 de outubro, conseguiram romper as linhas inimigas e ligar-se ao 1°/141°, no episódio que ficou conhecido como o “Lost Battalion[16]” da Segunda Guerra Mundial.

O 442 continuou em combate, até alcançar Saint Die, em 17 de novembro de 1944, quando foram retirados da frente.

Após a campanha francesa do 442, o 100° Batalhão estava reduzido a pouco mais de 250 homens. O 2° Batalhão, a pouco mais de 300, e o 3° Batalhão, a quase 300 soldados. O 442nd RCT fora reduzido a pouco mais de 1.000 integrantes, menos de um terço dos 4.000 originais.

Enviado à Riviera Francesa para recuperação e reorganização, o 442 levaria quatro meses para regressar ao fronte, novamente na Itália, tendo desembarcado em Livorno e se juntado, desta feita, à 92ª Divisão de Infantaria dos EUA, em 23 de março de 1945.

Novamente na Itália

A 92ª Divisão de Infantaria, que carregava a acunha de “Buffalo Soldiers”, era uma Grande Unidade segregada, ou seja, composta por soldados, graduados e oficiais subalternos de ascendência africana, comandados por oficiais superiores brancos. Foi a única divisão de afro-americanos a combater na Segunda Guerra Mundial.

O 442nd Regimental Combat Team foi agregado à 92ª para incrementar seu poder de combate e capacidade ofensiva, visto que muitos consideravam a divisão Buffalo como incapacitada para o ataque, restringindo seu emprego a ações defensivas e até de segurança das áreas de retaguarda. Essa apreciação negativa sobre o desempenho da Divisão foi muito contestada, creditando sua autoria a oficiais superiores, eivados de preconceitos raciais.

Novamente na Itália e mais uma vez integrada ao 5° Exército, sob o comando de Clark, que o recebeu com muito apreço, o 442 viera, dessa vez, desfalcado de seu elemento de apoio de fogo de artilharia, o 552nd Field Artillery Battalion, que permanecera na França, sendo empregado em apoio a várias divisões, e vindo a ser os únicos combatentes de origem nissei a lutar na Alemanha. Patrulhas de reconhecimento do 552 foram as primeiras a chegarem ao complexo de campos de Dachau, na Baviera.

Na Babel de tropas que compunham os exércitos aliados na Itália, o 442 pôde travar contato, além dos segregados – como eles próprios – Buffalo Soldiers da 92ª, com tropas de diversas nacionalidades e etnias, como as unidades formadas nas colônias britânicas e francesas, da África e da Ásia, como também com a não-segregada Força Expedicionária Brasileira, que contava, inclusive, com vários nissei em suas unidades.

No esforço final do 15° Grupo de Exércitos na Itália, para romper a Linha Gótica e atingir Bolonha e, a seguir, o Vale do Pó, impedindo, assim, a fuga das forças alemãs na península, o 442 voltaria a provar seu valor em combate.

Nos Apeninos

Lutando nos Apeninos, participou de ações diversionárias que se revelaram de grande valia para que o 5° Exército pudesse romper a Linha Gótica e acessar o Vale do Pó. Sua última ação na Itália – e na guerra – foi a conquista de Aulla,, em 25 de abril de 1945, que cortou a retirada de importantes forças inimigas, que se renderam a outras unidades do 5° Exército.

O Regimento mais condecorado da história

Ao final da guerra, o 442nd Regimental Combat Team tornou-se a mais condecorada unidade do seu tamanho em toda a história do US Army.

O 442 recebera oito Citações Presidenciais de Unidade; 21 de seus integrantes receberam a mais alta condecoração da nação norte-americana por valor em combate: a Medalha de Honra do Congresso; mais de 18.000 medalhas foram conferidas a homens do regimento, sendo mais de 500 Silver Stars, 4.000 Bronze Stars e mais de 4.000 Purple Hearts, dentre outras distinções e comendas. Como comparação, a 34ª Divisão de Infantaria, com cerca de três vezes o efetivo do 442, recebera, ao final da guerra, 11 Medalhas de Honra e 2.500 Bronze Stars.

O preço

O preço pago pelos pequenos soldados nipo-americanos foi extremamente alto.

Os quase 4.000 integrantes originais do 100° BI e do 442, quando da sua formação, no início de 1943, tiveram de ser recompletados duas vezes e meia, atingindo um total de 14.000 japoneses-americanos a servirem na unidade. Um em cada três membros do 442 não sobreviveu à guerra.

O 100th Infantry Battalion e o 442nd Regimental Combat Team, que posteriormente o encampou, foram alvos de grande desconfiança pelas autoridades políticas e militares dos EUA e dos Aliados, que suspeitaram de sua lealdade e, até de sua capacidade como combatentes.

Além do reconhecimento manifestado por meio das condecorações outorgadas, várias homenagens foram prestadas à unidade nissei, por altas autoridades militares e políticas, ao final da guerra.

O General Mark Clark, que acolhera os japoneses-americanos no 5° Exército, quando outros importantes chefes militares os haviam recusado, expressou sua admiração e honrou os heroicos combatentes, ao final da guerra:

“– Todos vocês, americanos de ascendência japonesa, têm o direito de se sentirem orgulhosos, por terem alcançado os mais altos padrões de combatentes americanos. Vocês sempre quiseram estar próximos ao inimigo. Ele não blefou com vocês e vocês sempre os derrotaram. Deixem-me dizer-lhes novamente que a 34ª Divisão de Infantaria está orgulhosa de vocês, o 5° Exército está orgulhoso de vocês e a América está orgulhosa de vocês!”.

Reconhecimento

Em julho de 1946, foi realizada uma parada militar em Washington – DC. Na oportunidade, o Presidente Harry Truman condecorou o estandarte do Regimento, dizendo: “- Combateram não somente o inimigo, mas também o preconceito. E venceram!”.

Truman, assim, reconhecia o tratamento desigual a que foram submetidos os japoneses-americanos, e sua luta para provar sua lealdade para com os EUA.

Para os que lutaram tão bravamente, na Itália e na França, jamais houve dúvidas ou hesitações sobre onde estaria sua lealdade e sobre sua vontade em defender a América, a pátria que acolhera seus pais:

“- Nossos pais nos ensinaram a defender nosso país, e a morrer por ele!”, disse Noburu Seki, um nissei morador de Honolulu, no Havaí. Seus pais haviam retornado ao Japão, poucos dias antes de Pearl Harbor. Noburo decidiu permanecer no país. Ansioso por provar seu patriotismo, foi empregado como trabalhador braçal nas obras militares que passaram a ser feitas no arquipélago, ante o temor de uma invasão pelos japoneses. Assim que surgiu a oportunidade, alistou-se no 442, em janeiro de 1943, tendo combatido na Itália, de Roma a Florença. Já na França, durante a batalha de Biffontaine, nos Vosges, foi atingido por uma rajada de metralhadora, que lhe custou seu braço esquerdo.

“- Nós fomos tratados como inimigos, mas após a guerra, eles nos trataram como americanos, porque combatemos bem!”.

Fato é que a criação do 100° BI, inicialmente, e do 442° RCT, logo a seguir, foi uma tentativa norte-americana de neutralizar a intensa campanha de propaganda adversa que os japoneses empreendiam por toda a Ásia que jazia sob seu domínio, e por meio da qual acusavam a América de ser uma nação racista. As fileiras do 100 e do 442 foram completadas e recompletadas, sucessivamente, apenas por voluntários, não tendo havido a necessidade da convocação de jovens nissei para integrar suas fileiras.

Anos mais tarde, em 1962, o governador do Texas, John Connally fez dos membros do 442 “texanos honorários”, pelo resgate do “Lost Battalion”, da 34ª Divisão de Infantaria, formada por homens da Texas National Guard.

Desculpa presidencial

Oficialmente, o governo dos EUA desculpou-se pela internação dos nipo-americanos em campos e ofereceu compensações, através do Civil Liberties Act, assinado em 1988 pelo então Presidente Ronald Reagan.

Em 5 de outubro de 2010, o 442nd RCT recebeu a Congressional Gold Medal[17] e, em 2 de novembro de 2011, essa honraria foi estendida a todos os soldados nissei que combateram na Segunda Guerra Mundial.

Em 2012, os remanescentes do 442 foram feitos Cavaleiros da Legião de Honra pela República Francesa, em reconhecimento às suas ações para a libertação daquele país do jugo nazista.

Os soldados japoneses-americanos da Segunda Guerra Mundial foram objeto de várias outras homenagens pelos EUA, por meio de memoriais, monumentos e dando nome a rodovias, além de estamparem selo postai dos correios norte-americanos.

A América reconheceu a lealdade, o patriotismo e o valor dos seus solados nissei, como tornou a enfatizá-los o General Mark Clark, ao referir-se a eles:

“- Eu digo, sobre os japoneses combatendo: eles eram soberbos. Aquela palavra corretamente os descreve: soberbos. Eles tiveram baixas terríveis, eles mantiveram rara coragem e tremendo espírito de combate!”.

Por Marcelo Pimentel


[1] Filhos de pais japoneses, nascidos no país de destino após a emigração do Japão.

[2] Reserve Officers Training Corps é um programa de treinamento oferecido aos alunos de faculdades e universidades americanas, para habilitá-los a ocupar cargos de oficiais das Forças Armadas, da ativa, da reserva e da Guarda Nacional.

[3] Voluntários Universitários da Vitória.

[4] Unidade formada com base em um Regimento de Infantaria a 3 Batalhões, acrescido de 1 Grupo de Artilharia, Companhias de Engenharia, Anticarro, de Comando, de Serviços e de obuses 105. Tinha o poder de combate equivalente a uma Brigada de Infantaria.

[5] Lembrem-se de Pearl Harbor.

[6] Corporação de Engenharia, destinada à construção da infraestrutura de comunicações e de defesa em proveito das Forças Armadas alemãs e do esforço de guerra, durante a 2ª Guerra Mundial. Criada pelo Ministro do Armamento e Munições do Reich, Fritz Todt, empregava largamente trabalhadores escravos.

[7] Batalhão Purple Heart. A Purple Heart é a condecoração concedida a militares feridos em combate.

[8] 552° Grupo de Artilharia de Campanha, a 3 baterias de canhões 105mm M2.

[9] 232ª Companhia de Engenharia de Combate.

[10] Companhia Anticarro.

[11] Companhia de Obuses 105mm M3.

[12] Companhia de Serviços.

[13] Companhia de Comando.

[14] Comando do Regimento e Estado-Maior.

[15] Pequena Cassino

[16] Batalhão perdido.

[17] Medalha de Ouro do Congresso. Mais alta honraria do Congresso dos EUA em reconhecimento a feitos e contribuições ao país por indivíduos ou instituições. Não confundir com a Medal of Honor, concedida apenas a militares.

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