O Napoleão de hospício de Ridley Scott

Está sendo exibido, nas telas dos cinemas por todo o país, o filme “Napoleão”, do aclamado diretor britânico Ridley Scott, responsável por sucessos como “Alien, o oitavo passageiro”, “Blade Runner”, “Gladiador”, “Falcão Negro em perigo”, “Cruzada”, dentre outros.

O aguardado longa-metragem tem levantado polêmicas e discussões acerca da peculiar abordagem sobre o personagem histórico que dá título à obra.

Em seus mais de 150 minutos de duração, o roteiro revela um Napoleão perturbado, vacilante, indeciso, preso a intrigas palacianas e a uma relação doentia com sua esposa, Josefina.

Um Napoleão fraco

Ao lançar o foco demasiadamente sobre as relações pessoais e as motivações mais íntimas do Corso, o filme acaba, segundo muitos, eclipsando o político hábil e, principalmente, o gênio militar que varreu a Europa em várias campanhas, destronando reis e desafiando alianças que se ergueram para impedi-lo.

A campanha da Itália, por exemplo, é apenas referenciada em uma fala do personagem, quando apresentado no Egito, de onde se retira ao ter conhecimento da traição de Josefina, abandonando suas tropas. Outras campanhas e batalhas famosas, quer por serem vitórias retumbantes ou derrotas amargas, são ignoradas, como a da Península Ibérica, e outras são ligeiramente mostradas, como a obra-prima de Austerlitz e o fracassado morticínio da campanha da Rússia.

O exílio em Elba, o retorno e o governo dos 100 dias são abordados  “en passant”, restando o consolo de alguns minutos de ação em Waterloo, a derrota definitiva ante Wellington e Blücher, até seu desterro na Ilha de Santa Helena e o amargo fim.

Fato é que a produção esmerada e cuidadosa quanto à reconstituição de época poderia ter dispendido mais tempo e alocado mais recursos às batalhas, que notabilizaram o general e o colocaram como um dos mais capazes da História.

Desperdício de uma grande e cara produção

Pelo menos para nós, os apreciadores da História Militar, teria sido um grande prazer assistir na telona a arte militar de Napoleão apresentada com maior apuro, e não com tanta intensidade, como nessa obra, as neuroses e complexos de um “napoleão de hospício”.

Para conhecer mais a fundo, apreciar ou recordar os momentos marcantes do líder francês nos campos de batalha, apresentamos a seguir três livros que retratam em detalhes a vitória em Austerlitz, o malogro da Rússia e o fatídico duelo em Waterloo.

AUSTERLITZ 1805: A BATALHA DOS IMPÉRIOS

Ian Castle

Osprey Publishing  – 2010 (96 páginas)

Trata da coroação da primeira campanha de Napoleão como imperador da França, e do primeiro teste de sua “Grande Armée”.

Nessa batalha, travada na Morávia (atual República Tcheca), em 2 de dezembro de 1805, os franceses enfrentaram as forças da Terceira Coligação, representadas por tropas russas e austríacas, sob Alexandre I e Francisco II, respectivamente.

O livro ilustra a situação dos exércitos em presença e o desenvolvimento da batalha, que penderia em favor dos franceses que, mesmo em número inferior, sairiam vitoriosos graças ao extraordinário senso tático de Napoleão, que empregaria nessa contenda sua máxima, de “dividir para conquistar”.

RÚSSIA CONTRA NAPOLEÃO: A BATALHA PELA EUROPA, DE 1807 A 1814.

Dominic Lieven

Amarilys editora – 2014 (656 páginas) – LINK AQUI

A malograda campanha napoleônica na Rússia, em 1812, ficaria marcada pela batalha de Borodino, pela tomada de Moscou, pelo incêndio da cidade, provocado pelos próprios russos e pela célebre retirada de inverno, quando os remanescentes do exército francês se arrastaram após sofrerem centenas de milhares de baixas.

Restou no imaginário a impressão de que as tropas de Napoleão teriam sido derrotadas apenas pela atuação do “general inverno”, creditando, assim, aos extremos rigores da estação a vitória sobre os invasores.

Neste livro, o autor desmistifica tal ideia, atribuindo créditos, também, aos estrategistas russos e aos seus valorosos soldados.

O autor também recria a épica campanha entre os dois impérios, detalhando-a e descrevendo sua evolução, ápice, desfecho e consequências.

WATERLOO

Bernard Cornwell

Record  – 2015 (364 páginas) – LINK AQUI

Recriação da batalha que deteve Napoleão, definitivamente, e que determinou o destino de toda a Europa.

O livro é de autoria de Bernard Cornwell, autor britânico renomado de várias obras, como Azincourt, 1356, Rebelde, O forte, e as séries As aventuras de Sharpe, As crônicas de Arthur e A busca do Graal, dentre outras.

Em Waterloo, Cornwell descreve desde a fuga de Napoleão da Ilha de Elba, onde encontrava-se exilado, aos acontecimentos do campo de batalha na Bélgica, onde após quatro dias, o Corso seria definitivamente derrotado, em 18 de junho de 1815.

Com base em registros do Duque de Wellington, dos diários e Napoleão e de cartas de soldados dos contingentes empregados na batalha, o autor reconstitui a luta de forma detalhada. Relata as idas e vindas, os momentos decisivos, as decisões tomadas no fragor da luta e a perspectiva de generais e soldados, que se enfrentaram em uma das mais famosas e decisivas batalhas da História.

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