Martin James Monti era um jovem norte-americano, de Saint Louis, no estado do Missouri, que se alistara na USAAF (United States Army Air Force) como cadete-aviador, em novembro de 1942, aos 21 anos de idade.
Seu pai era filho de imigrantes de origens suíço-italianas, e sua mãe, de um casal de alemães. Ao lado de seis irmãos, quatro dos quais serviriam na Marinha dos EUA na guerra, Monti fora criado em um ambiente de arraigada fé católica, de profundo anticomunismo e com simpatias pelas ideias nazifascistas, que encontravam ressonância em parte da sociedade americana, nos anos 1930. O jovem Monti fora cativado pelo discurso do padre Charles Coughlin, um pregador católico de Detroit, que alcançara enorme sucesso em seu programa semanal de rádio, até ter sido proibido pelas autoridades, ao início da guerra.
Após receber seu treinamento de piloto, durante o ano de 1943 e o primeiro semestre de 1944, ao fim do qual foi habilitado a pilotar aeronaves P-38 Lightning e suas variações, Monti foi promovido a segundo-tenente aviador e enviado para Karachi, então pertencente à Índia britânica, em agosto de 1944, para integrar um depósito de recompletamento de pessoal, onde deveria aguardar a designação para uma unidade de combate.
Jornada para a Alemanha
Em 1° de outubro de 1944, Monti iniciou sua incrível e inusitada jornada para a Europa, onde planejava desertar para o lado alemão, a despeito de a situação da Alemanha estar à beira da derrota militar, em todas as frentes.
Monti, sem as devidas autorizações, usando de esperteza e contando com a leniência do pessoal militar americano, conseguiu uma carona em uma aeronave de transporte C-46 para a cidade do Cairo, no Egito. De lá, conseguiu um voo para Trípoli, na Líbia. De Trípoli, embarcou para Nápoles, na Itália, lá chegando em 10 de outubro, e de onde seguiu para Foggia, que sediava importante base aérea aliada. Monti apresentou-se, então, ao comandante do 82nd Fighter Group, da USAAF, voluntariando-se para missões de combate, tendo seu pedido recusado.
Voltando a Nápoles, em 13 de outubro de 1944, apresentou-se no 354th Air Service Squadron, uma unidade de apoio, que reparava, testava e encaminhava aeronaves para as unidades de combate da Força Aérea do Exército dos EUA no fronte italiano. Nessa oportunidade, alegando pertencer ao 82nd Group, Monti ofereceu-se para realizar um voo de teste com um F-5E Lightning, uma versão do P-38 para reconhecimento e fotografia aérea.
Obtendo sucesso, Monti decolou e rumou diretamente para Milão, que se encontrava ainda em poder dos alemães.
Deserção para os alemães
Em Milão, Monti pousou sua aeronave e a entregou, intacta, ao inimigo. Imediatamente, foi providenciada a substituição das insígnias de identificação americanas por outras, da Luftwaffe, despachando-a para a Alemanha.
Os alemães, de início, não acreditaram nas alegadas “boas” intenções de Monti, e o enviaram para um campo de prisioneiros de guerra nas proximidades, até interceptarem uma transmissão de rádio dos aliados, na qual determinavam a prisão de Monti, assim que fosse encontrado.
Foi, então, enviado para Berlim, onde foi designado para atuar na máquina de propaganda nazista. Incorporado às famigeradas SS, passou a trabalhar como locutor de programas destinados a abalar o moral das tropas norte-americanas que combatiam na Europa.
Passou a usar o pseudônimo de “Captain Martin Wiethaupt”, forjado com a união de seu primeiro nome com o sobrenome de sua mãe. No entanto, Monti não foi aceito pela estrela da companhia, a atriz norte-americana Mildred Gilles, que atuava há anos na propaganda alemã, onde passou a ser conhecida como “Axis Sally”, algo como “Sally do Eixo”, entre os G.I. americanos. As pressões de Mildred, aliadas ao fraco desempenho de Monti ao microfone, levaram os alemães a utilizá-lo em outra unidade de propaganda, onde passou a escrever panfletos a serem distribuídos entre prisioneiros de guerra americanos.
Próximo ao fim da guerra, em fins de abril de 1945, o Untersturmfüher (Segundo-Tenente) Monti foi enviado ao norte da Itália, em uma unidade das SS.
A tentativa de escapar
A seguir a rendição das tropas alemãs na Itália, em 2 de maio de 1945, Monti apresentou-se a tropas do V Exército dos EUA, ainda vestindo uniforme das SS. Alegou que fora abatido pelos alemães e que permanecera, desde então, com os partisanos italianos, que o esconderam e que lhe deram o uniforme alemão, a fim de que pudesse atravessar as linhas alemãs e retornar às posições aliadas.
Monti teve um sucesso parcial, conseguindo não ser acusado de traição ou deserção para o inimigo, tendo sido julgado em agosto de 1945 por uma Corte Marcial, que o condenou a 15 anos de prisão, por extravio de equipamento e por ter estado “ausente sem permissão”.
Em fevereiro de 1946, o Presidente Harry Truman suspendeu o cumprimento da pena, sob a condição de Monti retornar ao serviço militar na USAAF, como simples recruta. Monti passaria mais dois anos no Exército, chegando à graduação de sargento.
No entanto, em 1947, uma investigação sobre o seu caso foi realizada e, em novembro daquele ano, o jornal The Washington Post publicou a história de sua deserção e atuação na propaganda nazista.
Traição
Em janeiro de 1948, minutos após ter sido dispensado pelo Exército, Monti foi preso pelo FBI, acusado de traição.
Submetido a julgamento por uma corte federal do Brooklin, em Nova Iorque, Monti inicialmente declarou-se inocente. Porém, antes de começarem a serem ouvidas as testemunhas de acusação, mudou sua alegação para culpado, admitindo todos os atos que praticara, em sua tresloucada aventura.
Em 17 de janeiro de 1949, o juiz do caso o sentenciou a 25 anos de prisão e ao pagamento de multa de 10.000 dólares.
Monti apelaria de sua sentença, em 1951 e em 1958, sem obter sucesso. Em 1960, recebeu a liberdade condicional, após cumprir 11 anos.
Viveu longe dos holofotes e de encrencas, em Fort Lauderdale, na Flórida, até sua morte, em 11 de setembro de 2.000.
Monti, em sua visão particular da realidade, revelou que acreditava que os Estados Unidos deveriam lutar ao lado dos alemães, contra os verdadeiros inimigos da paz mundial, os soviéticos.
Uma junta psiquiátrica do Kings County Hospital, do Brooklin, avaliara Martin James Monti, a pedido da Justiça, antes de seu julgamento, em 1948. Atestaram que Monti era legalmente são, mas com tendências paranoicas e obsessivo-compulsivas, além de o considerarem narcisista, imaturo e com inteligência acima da média, estimando seu QI em 131.
Martin James Monti foi o único piloto norte-americano a desertar para o inimigo, conduzindo sua aeronave.
Por Marcelo Pimentel