O resgate de Benito Mussolini

      Ante o inexorável avanço Aliado na Sicília, a indicar que a retirada das forças do Eixo da ilha seria iminente e que a consequente invasão da parte continental da Itália traria os combates – e a destruição – para o coração do país, somado ao desgaste irreversível do governo de Benito Mussolini, o Grande Conselho Fascista, órgão de Estado criado pelo próprio ditador, e que fora convocado justamente por ele, a fim de obter o seu voto de confiança, votou por sua remoção do poder, em 25 de julho de 1943.

      Nesse mesmo dia, em audiência com o Rei Vitório Emanuel, Mussolini foi comunicado pelo soberano do seu afastamento da chefia do governo e de sua substituição pelo Marechal Pietro Badoglio. À saída do palácio, o recém-destituído “Duce” é preso e retirado do local, discretamente, em uma ambulância.

Benito Mussolini, o “Duce” – ditador italiano

As notícias sobre a deposição e prisão de Benito Mussolini logo chegam a Hitler, que convoca uma reunião em seu quartel-general de Rastenburg, na Prússia Oriental, conhecido como a “toca do lobo”, no dia 26 de julho. Para esse encontro, além das altas personalidades do regime nazista, são chamados o General Kurt Student, da Luftwaffe, comandante dos paraquedistas, e o Capitão Otto Skorzeny, então um obscuro oficial ávido por ação, que comandava uma tropa de comandos das SS (Schutzstaffel – Esquadrão de Proteção).

Hitler ordena a Skorzeny que localize e resgate o seu aliado e amigo Mussolini, o que seria um grande feito de armas para a Alemanha e a garantia da continuidade da aliança com os italianos, que já negociavam sua saída do Eixo e a aproximação com os Aliados. Para isso, deveria contar com o apoio e reforço das tropas e dos meios dos paraquedistas de Student.

O intrépido Skorzeny

Otto Skorzeny foi uma das personalidades mais invulgares da Segunda Guerra Mundial.

Austríaco de Viena, era filho de um próspero engenheiro civil, mas viu o padrão de vida da família despencar, durante a depressão econômica que se seguiu à Primeira Guerra Mundial. Em 1926, aos dezoito anos, ingressou na Universidade de Viena, onde graduou-se em Engenharia. Amante de aventuras e esportes, em particular da esgrima, participava de duelos a espada, muito comuns à época, entre os estudantes, o que lhe rendera uma enorme cicatriz na face esquerda, que seria sua marca registrada e que, segundo ele, trouxera-lhe uma indiferença à dor e aos perigos do campo de batalha.

Após graduar-se, abriu sua própria empresa e passou, também, a participar de corridas de automóveis, organizadas pelo Partido Nazista Austríaco, do qual se aproximou e ao qual se filiou, em 1931, aderindo, também, à força paramilitar do partido, uma versão local dos camisas-pardas, as SA (Sturmabteilung – tropas de assalto).

Em 1938, a Áustria foi pacificamente anexada à Alemanha e, após o início da guerra, em setembro de 1939, Skorzeny tentou ingressar na Força Aérea Alemã (Luftwaffe), mas fora recusado, devido à idade (31 anos), considerada avançada, e à altura (1,94m), considerada excessiva.

Skorzeny, então, alistou-se nas SS, sendo admitido, como cadete-oficial, no regimento Liebstandarte SS Adolf Hitler, unidade de guarda destinada à proteção do Führer. Participou de combates na Holanda, França e nos Bálcãs.

Transferido para a divisão Das Reich (2ª Divisão Panzer SS), atuou como oficial de manutenção na Operação Barbarossa, a invasão da União Soviética, tendo chegado a poucos quilômetros de Moscou, no inverno de 1941. Em dezembro de 1942, Skorzeny foi ferido gravemente na cabeça, por estilhaços de artilharia, o que provocou sua evacuação para Viena, a fim de recuperar-se. Nessa oportunidade, foi condecorado com a Cruz de Ferro.

 Após recobrar-se dos ferimentos, mas ainda convalescendo de uma enfermidade crônica na bexiga, Skorzeny fora considerado incapaz para o serviço na linha de frente, tendo sido designado para o serviço burocrático, em um dos muitos gabinetes de Berlim. Depois de tentar voltar ao combate, na 3ª Divisão Panzer SS, teve novos problemas de saúde, que o levaram de volta a uma escrivaninha.

Nas operações especiais

Por uma série de coincidências e por intermédio de amigos nas posições certas, mas, principalmente, pela necessidade de atendimento ao desejo de Hitler, de possuir unidades de comandos semelhantes às dos britânicos, ante os sucessos das ações do SAS (Special Air Service), do Major David Stirling, no Norte da África, e de incursões nas costas da Noruega e da França ocupadas, Skorzeny conseguiu ser nomeado comandante das tropas de operações especiais das SS, juntamente com a promoção a capitão, em 20 de abril de 1943.

Sua primeira missão foi a tentativa de levantar o povo Qashqai, no Irã, para sabotar as linhas de suprimentos americanas e britânicas, do ocidente para a União Soviética, no verão de 1943, na chamada Operação François. Antes que Skorzeny fosse lançado sobre o Irã, a operação fracassou, tendo os comandos que precederam a ação sido capturados, após uma infiltração por salto de paraquedas. Levavam explosivos, ouro e a promessa de mais reforços e materiais. Especula-se que, uma vez terminado o ouro, os Qashqai retomaram a lealdade aos britânicos…

No final de julho de 1943, após receber a missão de resgatar Mussolini, Skorzeny lançou-se à tarefa de localizar o prisioneiro do novo governo italiano.

Com a situação ainda ambígua, quanto à permanência da Itália na guerra, e de qual lado, havia, ainda, no país, muitos simpatizantes da aliança com a Alemanha e, também, muitos laços entre militares, diplomatas e outros servidores públicos italianos com seus correspondentes alemães, assim como esses tinham liberdade de movimentos dentro do território peninsular, o que permitia a Skorzeny investigar e obter as informações sobre o paradeiro do ditador deposto.

Imediatamente após ser preso, Benito Mussolini fora mantido no quartel dos Carabinieri (polícia nacional; gendarmeria), em Podgora, à margem ocidental do Rio Tibre, em Roma.

Logo, o Duce foi transferido para a ilha de Ponza, no Mar Tirreno, ao largo de Latina, a pouco mais de 30 quilômetros da costa, onde, ironicamente, funcionava uma prisão para adversários de seu regime.

A Inteligência alemã levantou, devido a uma indiscrição de um oficial da Marinha italiana, que o notório cativo fora transferido novamente, dessa vez para a base naval de La Spezia, na Ligúria, ao norte do país. Novos contatos com militares italianos amigos revelaram que o prisioneiro fora movimentado uma vez mais, para uma vila na ilha da Sardenha e, de lá, para a ilhota de La Maddalena, a pouco mais de três quilômetros da costa norte da Sardenha.

Tentativas de localizar a prisão do Duce

Skorzeny, na companhia de um tenente, ambos disfarçados de marinheiros, pois havia uma representação da Marinha alemã na pequena ilha, foram até La Maddalena, para confirmar a presença do Duce no local. Lá chegando, obtém a informação, junto a um fornecedor de gêneros do mercado local, que o ex-mandatário se encontrava preso em uma casa, conhecida como Vila Weber. A fim de obter fotografias aéreas do local, consegue um sobrevoo em uma aeronave Heinkel He-111, a partir de Roma. No dia 18 de agosto de 1943, próximo ao alvo, seu avião foi atacado por caças aliados, sendo forçado a pousar no mar. Skorzeny, com três costelas fraturadas, ainda conseguiu salvar a câmera fotográfica, antes do avião afundar. Juntamente com a tripulação, Skorzeny foi resgatado por um barco italiano e deixado na Sardenha.

Elaborou, então, com base nas informações colhidas no reconhecimento da ilha, um plano audacioso para atacá-la a partir do mar, mediante a estória-cobertura de uma visita protocolar da Marinha alemã a seus correspondentes italianos.

Pouco antes de desencadear a ação, Skorzeny efetuou uma derradeira verificação no objetivo, quando observou um ar de relaxamento entre os guardas. Ao entrevistar um deles, que caminhava, despreocupado, descobriu que Benito Mussolini havia sido retirado naquela manhã, em um hidroavião ambulância.

Skorzeny voltava à estaca zero.

Após quase vinte dias de buscas infrutíferas, seguindo pistas falsas e informações imprecisas, uma transmissão codificada, endereçada ao Ministro do Interior do novo governo italiano foi interceptada. Seu conteúdo era o seguinte: “Medidas segurança torno Gran Sasso completadas.” A mensagem era assinada por “Cueli”. Logo apurou-se que um certo General Cueli era o responsável pela guarda do Duce.

A situação evoluía rapidamente. A 3 de setembro, o 8° Exército de Montgomery cruzava o Estreito de Messina, ingressando no continente, sem oposição, pela Calábria. Nessa mesma data, secretamente, a rendição da Itália aos Aliados era assinada em Siracusa, na Sicília, pelo General Eisenhower e pelo General Castellano, emissário italiano. A divulgação desse ato só seria feita em 8 de setembro, por meio de uma transmissão radiofônica de Eisenhower, para que os Aliados e italianos ganhassem tempo e movimentassem suas forças de modo a obterem vantagens em relação aos alemães. Quando os alto-falantes anunciavam ao mundo a fratura do Eixo, o 5° Exército de Mark Clark navegava para o Golfo de Salerno.

Mussolini é localizado

Skorzeny, por seu turno, levantou que o único local que poderia servir de prisão a Mussolini, no Gran Sasso, seria o Hotel Campo Imperatore, uma estação de esportes de inverno, construído há poucos anos. O hotel estava a mais de dois mil metros de altitude, e somente era acessível por meio de um bonde teleférico, que partia de uma estação, na base do maciço, diretamente até o hotel.

O maciço do Gran Sasso está localizado na região do Abruzzo, na Itália central, a pouco mais de 100 quilômetros a nordeste de Roma.

Para tentar obter mais informações e, se possível, confirmar se Mussolini estava, realmente, confinado no Campo Imperatore, Skorzeny sugeriu a um médico do Exército alemão que fosse até o local, a fim de verificar se possuía as condições para instalar um centro de convalescência para feridos alemães. Impedido sequer de aproximar-se do hotel, o médico relatou que havia um dispositivo de segurança reforçado nas cercanias, executado por tropas dos Carabinieri, tendo levantado, ainda, que cerca de duzentos estariam no próprio hotel.

Skorzeny também fora informado que um sindicato protestara contra a demissão dos trabalhadores civis do hotel, apenas para “acomodar o fascista Mussolini”.

Não havia mais tempo a perder. Mussolini fora localizado. A última fase da Unternehmen Eiche (Operação Carvalho), o resgate do Duce, teria de ser realizada no mais curto prazo.

Na manhã de 8 de setembro, foi conduzido um reconhecimento aéreo do local, pelo próprio Skorzeny, que identificou o prédio do hotel, a estação do teleférico e um pequeno platô, junto ao edifício.

Pela exiguidade de terreno plano para a aterragem, estava inviabilizado um assalto aeroterrestre. Um assalto a pé, montanha acima também estava fora de questão, pelo tempo que demandaria.

O plano de resgate

Pela situação em que se encontrava o objetivo, foi concebida uma ação ousada, a ser realizada em 12 de setembro, na qual tropas de paraquedistas tomariam a estação-base do teleférico, enquanto Skorzeny e seus comandos, reforçados por mais paraquedistas, desceriam em planadores junto ao prédio do hotel, tomando-o imediatamente e resgatando Mussolini. Assim que esse estivesse em mãos alemãs e o local seguro, seria evacuado pelo teleférico até a base do Gran Sasso, de onde seria conduzido a um aeródromo próximo, na cidade de Áquila, e de lá embarcaria em um transporte Heinkel, que o retiraria da Itália. Como alternativa, um pequeno avião Fieseler Storch pousaria em uma pista improvisada, próximo à estação-base do teleférico, a fim de evacuar o Duce. Como terceira opção, o piloto pessoal do General Student, Capitão Gerlach, ficaria encarregado de pousar na área do hotel, também com um Fieseler Storch.

No dia 11, as tropas dos comandos e paraquedistas ocuparam a base da Força Aérea italiana, em Pomezia, a sudoeste de Roma.

Partida para o objetivo

Em 12 de setembro, reides aéreos aliados retardaram a chegada dos planadores, causando atraso na decolagem dos comandos de Skorzeny e dos paraquedistas de Student. Quando estavam prontos para fazê-lo, um ataque de bombardeios à base aérea os atrasou por mais alguns minutos. Entre 13:00 horas e 13:10, finalmente, os doze planadores DFS 230, rebocados por aviões Henschel Hs-126, decolaram rumo ao Gran Sasso, sem o efeito surpresa pretendido por Skorzeny, que planejara abordar o objetivo ainda de madrugada.

Na decolagem, os dois aviões que rebocavam os planadores da frente tiveram problemas de orientação, sendo ultrapassados pelos dois seguintes, justamente os que conduziam Skorzeny e seus comandos. Skorzeny, portanto, ficara sem o escalão de segurança a cobrir sua chegada ao solo. Dois outros planadores não conseguiram decolar, por conta das crateras na pista, causadas pelo bombardeio recente. Junto a Skorzeny, agora no planador líder, viajava o General Fernando Soletti, dos Carabinieri, um trunfo de última hora, levado com a tarefa de demover seus camaradas de resistir à incursão.

Ao sobrevoar o objetivo, constaram que não havia um local seguro para o pouso, pois o que parecera um platô, no reconhecimento aéreo feito por Skorzeny, era uma pequena área, coberta de rochas. Skorzeny intimou o piloto da planador e mandou que soltasse o cabo que o prendia a seu rebocador. O planador mergulhou e realizou um pouso miraculoso, sem causar vítimas, deixando os homens a pouco mais de 20 metros do hotel. Eram 14 horas e 5 minutos.

Skorzeny saltou, puxando o General Soletti atrás de si, e ambos correram para a entrada do prédio, sendo seguidos pelos comandos que estavam no planador líder.

Skorzeny resgata Mussolini

As sentinelas dos Carabinieri, aturdidas, não reagiram, ante os gritos de Soletti e pela surpresa da investida. Skorzeny, após entrar inadvertidamente na sala do rádio, derrubando o operador italiano a pontapés e destruindo o aparelho com um tiro, arremeteu para as escadas, acompanhado por um tenente, encontrando o Duce em um quarto no segundo andar, com dois oficiais italianos a escoltá-lo. Mais uma vez, não houve reação. Outros comandos alcançaram o quarto, pela janela, após escalarem a parede do edifício. Com a situação controlada e Mussolini sob a proteção do tenente de Skorzeny, esse exigiu a rendição do coronel que comandava praça, o que foi logo aceito, de maneira muito cavalheira. A situação no Hotel Campo Imperatore estava dominada. Um acidente com um dos planadores, que se espatifara na aterrisagem, provocou as únicas baixas na empreitada.

Momentos antes do assalto ao hotel, duas companhias de paraquedistas, lideradas pelo Major Harald-Otto Mors, comandante do batalhão paraquedista empregado na ação pelo General Kurt Student, tomaram a estação-base do teleférico, cortando suas comunicações e impedindo que reforços chegassem ao Campo Imperatore. No itinerário, eliminaram vários bloqueios instalados por italianos na estrada que demandava ao local. Também balizaram uma pista improvisada para que o Fieseler Storch que serviria como alternativa para a retirada de Mussolini pudesse ser operada.

No hotel, um Mussolini com ar cansado e barba por fazer posava para fotografias com seus salvadores.

Mussolini entre militares alemães e italianos, com Skorzeny à esquerda, de binóculos
Gran Sasso – 12 de setembro de 1943
FOTO: Toni Schneiders – Coleção do Deutches Bundesarchiv

Uma decolagem arriscada

A primeira opção de retirá-lo por um avião Heinkel, no aeródromo de Áquila, não pôde ser realizada, por não ter sido obtida a comunicação com a base de onde decolaria, em Roma. A segunda opção, a de utilizar um Fieseler Storch que decolaria de uma pista à base do Gran Sasso, também estava descartada, pois a aeronave quebrara o trem de pouso, ao aterrissar. Restava a última opção: o às da Luftwaffe, Capitão Gerlach, com outro Fieseler Storch, em um pouso extremamente arriscado, no terreno do Campo Imperatore. Confirmando sua fama de exímio piloto, Gerlach conseguiu pousar, após os alemães e italianos limparem o máximo possível uma faixa de terreno, retirando as maiores pedras, que pudessem danificar a aeronave.

No entanto, a decolagem foi antecedida de um impasse. Skorzeny insistiu em embarcar na aeronave, que só comportava duas pessoas. Diante da recusa de Gerlach, o líder dos comandos das SS fê-lo entender que a missão lhe fora determinada pelo próprio Hitler, em pessoa, e que, se algo desse errado e o Duce não chegasse são e salvo na Alemanha, estariam ambos em séria encrenca.

Gerlach mais uma vez empregou sua extrema perícia, e decolou, após perder uma roda em choque com uma rocha. O pequeno e sobrecarregado avião mergulhou no penhasco e, para alívio geral, recuperou altitude e voou para Roma, onde um Heinkel He 111 os aguardava, decolando imediatamente para Viena. De lá, no dia seguinte, Skorzeny e seu troféu Benito Mussolini rumaram em um Ju-52 para o Covil do Lobo, em Rastenburg.

Benito Mussolini foi convencido por Hitler a criar a República Socialista Italiana, um arranjo para justificar a presença de tropas alemãs na Itália e contar, ainda, com as divisões italianas que não haviam aderido ao armistício feito por Vitor Emanuel III e Badoglio com os Aliados.

Entretanto, sua breve república fascista chegaria ao fim com sua morte, por partizans comunistas, em Milão, em 28 de abril de 1945.

Skorzeny alcança a fama

Quanto ao homem que o resgatou, o episódio do Gran Sasso o elevou à categoria de herói nacional. Imediatamente promovido ao posto de major e condecorado com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro, dentre outras comendas, tornou-se o favorito de Hitler e seu homem de confiança para missões tão espetaculares quanto estapafúrdias.

O sucesso do resgate de Mussolini foi largamente empregado como peça de propaganda nazista, pelas mãos de Joseph Goebbels, que organizou um grande evento em Berlim, no qual Skorzeny foi aclamado como herói do Reich e seus homens, condecorados por ele, em apoteótica solenidade.

A façanha de Skorzeny foi reconhecida até mesmo por Winston Churchill, em discurso no parlamento britânico, que destacou a ousadia e a habilidade demonstradas na ação.

Logo, Otto Skorzeny receberia a alcunha de “o homem mais perigoso da Europa”.

Outras ações audaciosas

Tal fama seria justificada por uma série de empresas extraordinárias e desesperadas, capitaneadas por ele.

A tentativa de capturar Tito, líder da resistência nos Bálcãs; sua atuação em Berlim, quando foi fundamental para desmantelar a tentativa do grupo de Stauffemberg de tomar o poder, no episódio conhecido como “Valquíria”; o sucesso obtido para derrubar o governo de Horthy, na Hungria, e manter aquele país aliado aos alemães; a infiltração de comandos disfarçados de soldados americanos, para espalhar pânico e confusão, em proveito da última ofensiva alemã a oeste, nas Ardennas; a organização de movimentos de resistência, usando a Juventude Hitlerista, para se oporem à invasão a Alemanha pelos Aliados; o comando de uma divisão das SS, para resistir à avalanche russa, em uma cabeça-de-ponte a leste do Oder, que lhe valeu as Folhas de Carvalho para a Cruz de Cavaleiro; a tentativa malsucedida de empregar mergulhadores para destruir a Ponte Ludendorf, em Remagen, capturada intacta pelos americanos; e, finalmente, a insana e inexequível tarefa de comandar o último reduto de resistência alpino, que não foi feita por não haver tropas, meios ou sequer a vontade, como Hitler supunha existirem.

Fim de guerra para Skorzeny

Um desiludido e conformado Tenente-Coronel Skorzeny rendeu-se, voluntariamente, aos americanos, alguns dias após a capitulação alemã.

Mantido preso em Dachau, foi julgado por crimes de guerra cometidos durante a Operação Grifo, quando seus comandos usaram uniformes americanos vestidos sobre os próprios uniformes. Foi absolvido graças a depoimentos de comandos ingleses, que disseram ter utilizado o mesmo estratagema em ações de guerra.

O Tenente-Coronel Skorzeny em Nuremberg, 24 de novembro de 1945
FOTO: US Holocaust Memorial Museum (Domínio Público)

No entanto, a absolvição não lhe garantiu a liberdade. Outros países reclamavam sua presença, para julgamento por crimes que alegavam ter cometido em seus territórios.

Fuga e asilo

Em 27 de julho de 1948, seus ex-camaradas das SS, sob disfarce, o retiraram da prisão.

Refugiou-se em Munique, em Salzburgo e, poucos meses depois, obteve asilo na Espanha.

Em Madri, retornou ao ofício de engenheiro civil, e trabalhou com importação e exportação.

Porém, não pôde fugir à sua natureza. Foi assessor militar do presidente do Egito; cooperou com os militares e com a Inteligência de Franco; atuou como conselheiro militar de Perón, na Argentina, onde se dizia que era amante de Evita e que organizava a vinda de criminosos de guerra nazistas para a América do Sul; foi recrutado pelo Mossad, em 1962, para identificar  cientistas e empresas de fachada alemães, que trabalhavam para o programa egípcio de mísseis.

Seu nome seria cogitado como autor das mais diversas peripécias exóticas, no mundo da espionagem e das conspirações.

Otto Skorzeny, o homem que resgatou Mussolini do Gran Sasso, morreria em Madri, aos 67 anos de idade, em 7 de agosto de 1975.

Uma história extraordinária

Há muitos livros, filmes e documentários sobre a vida de Otto Skorzeny e suas façanhas na Segunda Guerra Mundial.

Um desses livros foi traduzido para o português, que ainda pode ser encontrado em sebos e alfarrábios, por preços inferiores a R$15,00. Confira!

COMANDO EXTRAORDINÁRIO

Charles Foy

Editora Nova Fronteira

Rio de Janeiro – 1976

Disponível somente em sebos, na ESTANTE VIRTUAL (LINK)

Comando extraordinário

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