“The Frozen Chosen – The 1st Marine Division and the Battle of the Chosin Reservoir” é uma obra que versa sobre a épica retirada da Primeira Divisão de Fuzileiros Navais dos EUA na Batalha do Reservatório de Chosin, no inverno de 1950, durante a Guerra da Coreia.
O título do livro, “Os escolhidos congelados”, em tradução livre, é um trocadilho que brinca com as palavras “Chosen” (escolhidos) e “Chosin” (o reservatório que emprestou o nome à batalha) e é, também, uma referência ao apelido que receberam os que sobreviveram àquela luta sangrenta, travada sob um frio congelante, com temperaturas inferiores a 30°C negativos. Os participantes dessa batalha também seriam lembrados como “The Chosin Few”.
O ataque do Norte
Em 25 de junho de 1950, forças do Exército Popular da Coreia do Norte invadiram, de surpresa, a República da Coreia, conhecida popularmente como Coreia do Sul. Essas forças tomaram a capital sul-coreana, Seul, causando a debandada das divisões do Exército da República da Coreia que a enfrentaram. Prosseguiram, então, céleres para o sul, ao longo do Rio Han, na intenção de tomarem toda a península e apresentarem ao mundo um fato consumado, reunificando a Coreia sob a bandeira comunista.
No entanto, a recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de seu Conselho de Segurança e sob forte pressão política de Truman, Presidente dos EUA, condenou a invasão e concitou as tropas da Coreia do Norte a recuarem para a linha do paralelo 38, que delimitava os territórios dos contendores. A ONU também exortou seus países-membros a apoiarem a República da Coreia, para repelir o ataque e restabelecer a paz e segurança na região.
Truman, então, acionou o General Douglas MacArthur, comandante das forças norte-americanas de ocupação do Japão, para que apoiasse com meios terrestres, aéreos e navais o exército da Coreia do Sul.
Unidades americanas enviadas às pressas à Coreia opuseram resistência ao avanço do norte em Osan e Taejon, no mês de julho, mas foram debeladas. Em consequência, ao final daquele mês, os norte-coreanos forçaram as tropas norte-americanas e sul-coreanas a recuarem para o sudeste da península, em torno do porto de Pusan, que passou a se constituir em uma precária cabeça-de-praia.
A partir do “Perímetro de Pusan”, como passou a ser conhecido o reduzido território mantido pelos defensores, as forças da ONU detiveram o ataque norte-coreano, contando com o apoio da 7ª Frota da Marinha dos EUA, por meio do fogo naval e da aviação embarcada, somado ao apoio aéreo da Força Aérea do Extremo Oriente.
A reação da ONU
A partir da estabilização da situação em torno de Pusan, MacArthur, agora no comando das Forças da ONU na Coreia, lançou um desembarque anfíbio em Inchon, na costa oeste da península, em 15 de setembro, retomando Seul, após intensos combates, no dia 27 daquele mês.
No início de outubro, a ONU autorizou a invasão da Coreia do Norte pelas forças de MacArthur, então desdobradas com o 8°Exército, comandado pelo Tenente-General Walker, pelo oeste da península; e o X Corpo, do Major-General Almond, a leste.
A intenção do comandante das tropas da ONU era alcançar a fronteira chinesa, materializada pelo rio Yalu, antes do Natal de 1950. Assim, encerraria o conflito e reunificaria o país sob os auspícios da ONU, convocando-se eleições gerais e trazendo os combatentes para passarem as festas com suas famílias, na América.
No entanto, um novo e poderoso ator iria impedir os planos de MacArthur. Em fins de outubro, os chineses, por meio dos 13° e 9° Exércitos, cruzaram o Yalu e penetraram na Coreia, passando a combater as unidades do 8°Exército e do X Corpo.
O X Corpo em Chosin
O X Corpo, para cumprir a missão original, de alcançar o Yalu pela região nordeste da península, havia desembarcado em Wosan, na costa leste da Coreia do Norte. Em seguida, prosseguiu para o porto de Hungnam, a partir de onde infletiu para o norte, na direção da represa de Chosin, situada entre montanhas acessíveis somente por estreitos passos entre elas e com, praticamente, apenas um eixo de ligação com o porto de Hungnam.
O reservatório de Chosin fora formado a partir do represamento das águas do lago Changjin, pelos japoneses, em 1910, quando a Coreia era uma colônia daquela nação asiática. Os japoneses construíram a barragem e a usina hidrelétrica, em Hagaru-ri, para fornecimento de energia para o nordeste do país.
O lago de Changjin, que passou à História como Reservatório de Chosin, nome dado pelos japoneses e assimilado pelos norte-americanos, estende-se no sentido norte-sul por 20 Km, com um de seus braços projetando-se para oeste, alcançando 14 Km. Essa formidável massa d’água dissociava o dispositivo do X Corpo, obrigando o seu comandante a enviar a 1ª Divisão de Marines a oeste do lago e a Força-Tarefa Faith, com base no 31°Regimento de Infantaria, da 7ª Divisão de Infantaria dos EUA, a leste.
O ataque chinês
Durante o mês de novembro, as unidades da 1ª Divisão de Marines e da Força-Tarefa Faith progrediram para o norte, envolvendo o reservatório de Chosin. Após regalarem-se com um lauto almoço no Dia de Ação de Graças, as forças americanas e de seus aliados sul-coreanos e dos marines britânicos viram-se cercadas pelas forças dos três corpos do 9° Exército chinês, destacado da Manchúria para aniquilar o X Corpo.
Doze divisões chinesas passaram a cercar o X Corpo e a bloquear suas rotas de retirada, a fim de destruí-lo na posição. Cerca de 200.000 chineses abateram-se sobre os 22.000 marines e soldados do X Corpo.
Ordem de retirada
A oeste da península, o 8° Exército fora derrotado pelo 13° Exército da República Popular da China e passou à retirada para o sul. Diante desse quadro, MacArthur ordenou ao X Corpo que também retraísse para Wosan e, de lá, para Pusan.
Enquanto isso, os 5° e 7° Regimentos de Fuzileiros Navais da 1ª Divisão conseguiram romper s bloqueios chineses e alcançaram a cidade de Hagaru-ri, no extremo sul do reservatório. A leste, em Huding-ni, a Força-Tarefa Faith, apesar de encurralada pelos chineses, conseguiu também retrair para a mesma cidade, às custas de pesadas baixas.
O Major-General Almond ordenou ao Major-General Smith, comandante da 1ª Divisão de Fuzileiros Navais, que retraísse por via aérea, a partir de Hagaru-ri, que possuía um aeródromo, abandonando todo material e equipamento pesado.
Smith, então, sugeriu que fossem evacuados os feridos por via aérea e que fossem lançados pelo ar suprimentos, combustível e munição necessários para forçar a passagem da divisão até o porto de Hungnam.
Ao determinar que retraíssem, o General Smith disse-lhes, a fim de não abater o moral de seus orgulhosos Marines: “ – Não estamos retraindo, apenas estamos avançando em uma direção diferente!”.
Retirada épica
Em 6 de dezembro, sob temperaturas congelantes, a 1ª Divisão forçou a passagem para o sul, com o 7°Regimento à frente e o 5° à retaguarda. As 76ª e 77ª divisões do 26°Corpo chinês, até então descansadas, lançaram ataques noturnos contra as forças em retirada, a fim de impedir seu movimento.
Sofrendo pesadas baixas, os chineses explodiram importante ponte para cortar a retirada dos Marines, enquanto outras tropas dos 26° e 27° corpo atacavam a retaguarda do comboio.
Em 9 de dezembro, partes de uma ponte metálica foram lançadas por aviões, permitindo aos engenheiros de combate lançarem-na, possibilitando o retorno do movimento das tropas da 1ª Divisão para o sul.
As 58ª e 60ª divisões do 20°Corpo chinês, destacadas para tentar impedir esse movimento, estavam esfaceladas, contando, cada uma, com pouco mais de 200 soldados, sendo impotentes para realizara tarefa.
Todas as unidades da 1ª Divisão e as demais do X Corpo alcançaram o perímetro de Hangnam na noite de 11 de dezembro.
Cerca de 105.000 militares do X Corpo e do I Corpo sul-coreano, 17.500 veículos e 350.000 toneladas de equipamentos foram evacuados por navios da frota americana, além de quase cem mil refugiados coreanos. Todos foram transportados para Pusan, onde as forças foram reagrupadas com as do 8°Exército. Após a partida do último navio, foram detonadas cargas explosivas preparadas pelos engenheiros, que destruíram as instalações portuárias de Hangnam.
Essa retirada dramática teve como peça fundamental para o seu sucesso a atuação dos pilotos dos caças-bombardeiros F4U-Corsair, que prestaram o apoio aéreo aproximado na operação, metralhando e lançando bombas de napalm sobre as imensas formações chinesas.
As baixas foram da ordem de 4.385 Marines, 3.163 Soldados do Exército, 2.812 sul-coreanos e 75 Royal marines britânicos. A 1ª Divisão dos Fuzileiros ainda reportou 7.338 baixas devido ao frio intenso. As baixas chinesas alcançaram 52.000 combatentes.
Essa notável retirada rendeu 14 Medalhas de Honra do Congresso a fuzileiros navais, 2 a soldados do US Army e 1 para um aviados naval. Em números, a Retirada de Chosin perde, em número de Medalhas de Honra, apenas para a Batalha do Bulge.
“The Frozen Chosen”
O livro foi baseado em entrevistas inéditas com veteranos e outras personalidades que vivenciaram o episódio, não apenas no campo militar, como no político, oferecendo ao leitor uma visão em grande e pequena escalas, dos gabinetes de Washington às montanhas geladas da Coreia do Norte.
Nas páginas centrais, há um encarte com dezenas de fotografias que retratam vários aspectos e momentos da luta, ressaltando-se os rigores do inverno coreano, enfrentado bravamente pelos homens da 1ª Divisão de Marines.
Mapas com a situação das unidades no terreno também ajudam na compreensão da manobra encetada pelos Marines e Soldados em retirada, face ao inimigo em números avassaladoramente superiores.
Seu autor, Thomas McKelvey Cleaver, integrou a US Navy durante a Guerra do Vietnã. Tem publicado vários livros, ao longo dos últimos 45 anos, sobre assuntos militares e conflitos como a II Guerra Mundial e da Coreia. Thomas foi roteirista em Hollywood por mais de 30 anos e produtor em séries de TV aberta e a cabo. Atualmente, vive em Encino, Califórnia.
Confira:
THE FROZEN CHOSEN
Osprey Publishing Ltd
Oxford – 2016
Disponível apenas no idioma inglês, na AMAZON (Link AQUI)
Muito boa indicação!