A solidão segundo Solano López

A solidão segundo Solano López” é uma obra de ficção histórica, ambientada no contexto da Guerra da Tríplice Aliança, ou Guerra do Paraguai.

Nesse trabalho, ao autor narra, com especial habilidade, o conflito entre as tropas do Império do Brasil, República Argentina e República da Banda Oriental do Uruguai, que formavam a Tríplice Aliança, contra as forças do Marechal Solano López, ditador paraguaio.

Personagens reais

Ao contar sua história, o autor apresenta os personagens reais imersos em seus problemas e presos ao modo pensante de seu tempo. Mostra a visão do lado paraguaio como a do próprio López, em meio à sua corte e seu círculo íntimo; a de seus generais e, até, de seus poucos opositores.

Do outro lado, são apresentados as angústias e receios, face às incertezas da batalha e, também a determinação dos comandantes aliados em encerrar o conflito que se arrastava e drenava recursos e vidas. Ao abordar o lado da Aliança, o autor enfoca, em particular, os líderes brasileiros, que carregavam o peso maior naquela contenda.

Osório, Mallet, Gurjão, Argolo, Câmara, Tamandaré, Menna Barreto, Porto Alegre, Sampaio, Andrade Neves e até o Principe Gastão de Orléans são retratados em suas batalhas e ações na guerra.

Porém, o foco principal do autor, no lado brasileiro, recai sobre o Marechal Luís Alves de Lima e Silva, então Marquês de Caxias.

Luís Alves de Lima e Silva – Duque de Caxias

Visões da tragédia paraguaia

O lado da sociedade paraguaia e a dimensão humana da tragédia que se abateu sobre o seu povo são apresentados por meio de dois personagens inseridos no contexto desse evento histórico.

O primeiro deles é o Dr. Joseph Lansom, um médico inglês que vive no Paraguai e que transita entre as camadas mais baixas da população e a alta sociedade, ou a “corte” do ditador, as quais serve. Por meio desse personagem e seu filho, oficial da cavalaria paraguaia, o autor retrata o grau de sacrifício, abnegação e coragem com que os paraguaios se dedicaram aos combates, imolando-se pelo conceito da pátria invadida, porém manejados como simples peças descartáveis, pelo ditador López.

O segundo personagem é Andrés Mongelos, um ancião que vive em uma remota aldeia no Chaco paraguaio. Instruído e tendo vivido na Europa, Mongelos deixara escritos, em forma de reminiscências, que descrevem passagens da guerra e a lenta morte do Paraguai.

Marechal Francisco Solano López

Roteiro de filme

Maravilhosamente elaborado, o fio da meada do livro segue como um roteiro de cinema.

Iniciando com um prólogo sucinto e esclarecedor sobre as causas da guerra, a ascensão de López e a formação da Tríplice Aliança, a evolução do conflito e seus combates sucessivos são narrados com precisão histórica, sem, no entanto, torná-los enfadonhos.

O autor aborda os antecedentes e a transposição do Rio Paraná, próximo à confluência com o Rio Paraguai, pelas tropas da Tríplice Aliança, dando ênfase à participação do General Osório no episódio.

Em seguida, descreve as operações em território paraguaio, as batalhas de Tuiuti, Curuzu e Curupaiti.

A partir dessa última batalha, a narrativa passa a recair sobre a figura do então Marquês de Caxias, que assume o comando das operações. São, destarte, descritas as vitórias de Humaitá e a campanha denominada “dezembrada”,  quando o Marechal, com sua “Marcha de flanco”, envolveu as defesas paraguaias, praticamente destruindo seu exército.

Na sequência, o afastamento do Marechal, por motivo de saúde, a assunção do comando pelo Conde D’Eu e a perseguição final a  Solano López, com seus dramáticos acontecimentos, são descritos pelo autor.

Nas páginas finais, o autor dá voz aos personagens paraguaios, mostrando seus destinos em meio a um Paraguai destroçado.

Poesia e crueldade

Ao mesmo tempo que descreve as batalhas e as mortes; as condições precárias em que viviam os exércitos em disputa; a miséria humana; as injustiças e vilanias; e as vidas afetadas dramaticamente pela guerra, nos dois lados em conflito, o autor também exalta os mais altos valores humanos e os gestos de coragem, valentia e compaixão, praticados por ambos os contendores e, até, o amor que sobrevive à tragédia da guerra.

Escrita em meados dos anos 1970, a obra foge, no entanto, ao revisionismo típico daqueles anos. O autor descreve as ações, omissões e atos heroicos dos personagens históricos sem o viés de os detratar, procurando apresentar suas dimensões e características humanas. A única concessão feita ao pensamento reinante de então é a responsabilização do Império Britânico e a defesa de seus interesses no Prata pela eclosão do conflito, visão posteriormente afastada por obras mais recentes, como em “Maldita Guerra”.

“A solidão segundo Solano López”

Lançado em 1980, pela Editora Civilização Brasileira, e relançado pelo Círculo do Livro, em 1982, em edição em capa dura.

O Círculo do Livro era uma espécie de “clube”, no qual os assinantes escolhiam mensalmente um dos livros do catálogo, distribuído como uma revista. As edições eram bem cuidadas e a apresentação dos livros, caprichada. Os principais “Bestsellers” e os autores do momento eram apresentados aos leitores nessas revistas. Essa iniciativa foi um meio inteligente de se incentivar o hábito da leitura entre as famílias, e perdurou até o final da década de 1990.

O autor da obra, Carlos de Oliveira Gomes, advogado gaúcho e funcionário do Banco do Brasil, escreveu, também, o romance histórico “Caminho Santiago”, lançado pela José Olympio Editora, em 1986.

“A solidão segundo Solano López” é um excelente meio de se conhecer a Guerra do Paraguai por meio de uma versão romanceada.

Atualmente, o livro é encontrado somente em sebos, por valores inferiores ao preço de um café expresso.

Vale a pena ler:

A SOLIDÃO SEGUNDO SOLANO LÓPEZ

Círculo do Livro

São Paulo – 1982

Disponível na ESTANTE VIRTUAL (Link AQUI)

A solidão segundo Solano López

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